Doença da vaca louca no Brasil: Entenda claramente o caso e seus riscos

A doença da vaca louca pode atacar todo um rebanho, porém pode ser controlada se todas as recomendações sanitárias forem seguidas e os diagnósticos forem feitos da maneira correta e de forma rápida. 

Casos recentes de vaca louca em bovinos no Brasil

Neste sábado (04/09) o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) confirmou a ocorrência de dois casos da doença da Encefalopatia Espongiforme Bovina, a popular, vaca louca. Esses casos foram confirmados na cidade de Belo Horizonte (MG) e Nova Canaã do Norte (MT). 

Nos últimos 23 anos, período em que o Brasil fez vigilância específica para esta doença, apenas 3 casos tinham sido confirmados. Agora são cinco no total. 

Vaca Louca em Minas Gerais

O caso de Vaca Louca ocorrido em Minas Gerais foi divulgado apenas na última quarta-feira, porém, segundo fontes, este caso teria ocorrido em julho e o animal em questão já teria sido sacrificado e incinerado, conforme recomendam as agências de saúde animal do mundo todo. Antes desse caso ainda não havia registro da doença no estado. 

Vaca Louca em Mato Grosso 

No estado de Mato Grosso o caso de vaca louca apareceu na cidade de Nova Canaã do Norte, localidade que fica a, aproximadamente, 700 km de Cuiabá, O frigorífico notificou as autoridades competentes sobre o teste positivo. Segundo o Indea/MT, o teste foi feito no Canadá, em um laboratório de referência.

 

Caso de vaca louca o que é?

Doença da vaca louca é o nome popular para a Encefalopatia Espongiforme Bovina. Essa doença é um dos diversos tipos de encefalopatias possíveis. A enfermidade é causada por príons. Que são agentes infecciosos que não possuem material genético (RNA, DNA). Esses agentes existem, naturalmente, no cérebro de diversos animais e causam doenças como o scrapie em ovelhas e cabras, o mal crônico em animais maiores como cervos e alces e a vaca louca. Também atacam animais menos conhecidos como Kudu, Marta e Ônix. Além de doenças exclusivas dos humanos. 

Uma constante nas doenças causadas por príons é a velocidade de evolução e a letalidade. A forma como os príons agem ainda não está completamente esclarecida. Apesar de não possuírem material genético acredita-se que, de alguma forma, eles “enganem” o cérebro do hospedeiro para que sejam produzidos massivamente. 

Os casos de vaca louca constatados no Brasil recentemente são do tipo “atípico” isso significa que os animais não sofreram uma contaminação externa, mas que os príons já presentes em seus cérebros passaram por um processo de mutação e se transformaram em agentes patogênicos, que fizeram com que a doença se desencadeasse. 

Os príons, quando seu processo é desencadeado, se multiplicam muito rapidamente e transformam quaisquer moléculas de proteína em substâncias venenosas para o corpo e atacam principalmente o cérebro, raramente atacando outros órgãos.  

Existem duas formas dos bovinos desenvolverem a doença da vaca louca:

  • a primeira é a que ocorreu no Brasil com a mutação dos príons cerebrais, essa variante tende a ocorrer em animais mais velhos;
  • A segunda é a contaminação direta, normalmente pela alimentação, quando o animal ingere alimentos contaminados, restos de outros animais. Por esse motivo é recomendado que o animal seja sacrificado e incinerado, para evitar que outros animais se alimentem de suas carcaças e se contaminem. 

Além do risco pela alimentação, é possível que os animais se contaminem pelo uso de utensílios infectados, especialmente itens médicos. Essa contaminação também pode ocorrer com humanos, especialmente aqueles que manejam os animais e correm riscos normais advindos de suas atividades laborais. 

Riscos econômicos do mal da vaca louca

O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, desde 2020. Esse dado é um importante referencial a ser levado em conta quando pensamos nos impactos da doença da vaca louca na economia nacional. 

O maior comprador de carne bovina brasileira é a China, como parte do acordo comercial firmado pelos dois países o Brasil é obrigado a informar o governo chinês sobre os casos detectados, e, automaticamente, o acordo fica suspenso até que as autoridades chinesas tenham certeza de que a carne brasileira está saudável. 

Da mesma maneira que ocorre com a China é possível que outros destinos venham na esteira e suspendam os contratos com o Brasil, pelo menos até a situação sanitária ser completamente esclarecida.

A atuação dos frigoríficos brasileiros que já vinha diminuindo, afetada pela caótica situação financeira do país, diminuiu ainda mais seu ritmo. Em consequência, a bolsa de valores rural brasileira teve um gigantesco déficit nos últimos dias.  

 

Doença da vaca louca pode prejudicar as exportações de carne do Brasil?

Apesar dos dois casos da doença da vaca louca e da suspensão do comércio com a China, o Brasil não deve sofrer grandes perdas na exportação do produto. Uma vez que os dois casos foram encontrados em vacas idosas, que já seriam descartadas e que desenvolveram a doença de forma autônoma, ou seja, o contágio não veio por uma via que poderia levar à contaminação do rebanho todo. 

 

Exportações para a China e a vaca louca

Entre Janeiro e Agosto deste ano o Brasil exportou para a China R$ 3,13 bilhões em carne bovina, um aumento de cerca de 0,6 bilhões em relação ao mesmo período do ano passado. O valor é um recorde quando comparado com os últimos 20 anos. 

Cerca de 40% da carne bovina exportada pelo Brasil vai para China e Hong Kong. Egito, Chile e Arábia Saudita completam o top 5 de importadores da carne brasileira.  Cerca de 70% do produto vai para um desses cinco destinos. 

 

Criadores de gado do Amapá, Rondônia e Mato Grosso do Sul devem se preocupar com a doença da vaca louca?

Não! Nem desses estados nem de outros. Os casos que apareceram no Brasil são esporádicos. Não representam riscos para o restante do rebanho brasileiro. O país é considerado de risco insignificante para o contágio endêmico da doença

Os animais diagnosticados com a doença foram, a princípio, descartados conforme as instruções dos órgãos competentes. 

 

Vaca louca é risco ou estratégia para força queda nos preços da carne?

Não existe nenhuma indicação, até agora, de que os casos tenham sido forjados para forçar uma diminuição dos preços do produto, até porque os maiores interessados em manter o preço elevado são os próprios frigoríficos e pecuaristas. 

Porém, o fato é que, a suspensão da exportação da carne brasileira para a China fará com que o mercado interno receba um alto volume de carne, automaticamente, por leis do mercado, o valor irá diminuir. 

O que significa que o brasileiro médio poderá reinserir a carne bovina em sua dieta, por pelo menos um ou dois meses, até que o mercado seja reestruturado. 

Todavia, conforme esta análise bem fundamentada, você produtor deve ficar atento:

 

Como proteger o gado da doença da vaca louca

A variante esporádica da doença da vaca louca surge de forma imprevisível, são poucos os estudos na área e ainda não existe um consenso que aponte as causas que facilitam o aparecimento dessa variante. Sabemos que ela ocorre, normalmente, em animais mais velhos, porém não podemos afirmar que existem outros fatores que facilitem o seu aparecimento. 

A variante tradicional que ocorre por contaminação externa e que é bem mais perigosa, já que pode afetar rebanhos inteiros, pode ser controlada e evitada. A melhor maneira de se fazer isso é evitar alimentar os animais com produtos de origem animal. Existem leis brasileiras que proíbem a alimentação de bovinos com proteínas animais (com exceção do leite). 

É proibido, também, utilizar as camas de aviários para alimentar os bovinos. Os produtores que insistirem em utilizar esses materiais podem ser punidos criminalmente. Já que estão colocando em risco a saúde de toda a população. Se quiser saber mais sobre como proteger seu rebanho da doença da vaca louca, clique neste link.

Riscos da doença da vaca louca em humanos

A Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é a variante mais comum que ataca humanos.  A DCJ ocorre de forma esporádica nos humanos e, assim como nos bovinos, não tem uma explicação muito clara até então. 

Já a vDCJ ocorre após o consumo de carne contaminada. Por esse motivo, o governo proíbe a importação de produtos derivados da carne bovina em países nos quais a doença da vaca louca aparece com frequência. Também é proibido a importação de sangue humano de países como a Grã-Bretanha, por exemplo. 

A Doença de Creutzfeldt-Jakob ataca o cérebro, a variante esporádica ocorre, na maioria das vezes, em idosos e mata em menos de 6 meses. Enquanto a variante por contaminação é mais presente na população de 30 anos e leva 14 meses para matar. As duas doenças levam o paciente a demência, em um processo parecido com o mal de Alzheimer, porém muito mais rápido. 

Além da demência, a doença ataca também as faculdades motoras dos humanos, especialmente as respiratórias, por esse motivo é muito comum que o infectado contraia também a pneumonia e chegue ao óbito pela atuação desta segunda doença. 

Conclusão 

A doença da vaca louca é sempre preocupante e exige cuidados, especialmente com o descarte e abate do animal contaminado. Esse cuidado é ainda mais importante considerando que, se os restos mortais desse animal, forem parar, acidentalmente ou não, na alimentação de outros animais, isso pode levar a um desencadeamento imenso, parecido com o que ocorreu na Inglaterra décadas atrás. 

Esse efeito dominó levaria à morte de milhares de cabeças de gado e, também, de muitos humanos. Com uma das doenças mais tristes que pode existir, na qual a pessoa perde a consciência sobre ela mesma. Perde suas particularidades, e, por fim, perde a consciência até de que é um humano. 

Por isso é importante que todos os procedimentos sanitários sejam respeitados.